Quão insaciável pode ser a fome de um poeta
se ao longo da vida nada come
para além de versos insonsos
e intragáveis poemas de sabor amorfo
Quão intensa pode ser a sede de um poeta
se ao longo da vida nada bebe
para além de gotículas salobras de dor
e salpicos de desgosto pestilento
Quão escasso pode ser o sono de um poeta
se ao longo da vida nada dorme
para além de minúsculos roncos
em camas espinhosas de sofrimento
Quão ignóbil pode ser o descanso de um poeta
se ao longo da vida nada descansa
para além dos momentos em que escreve
e solta o verbo que nasce de si
Quão silenciosa pode ser a voz de um poeta
se ao longo da vida nada diz
para além dos seus pensamentos incompreendidos
clamados pela sua boca amordaçada
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