AMADORDOVERSO

Vejo a paixão nos planos que idealizas

rumo aos vis intentos que preconizas

estudas todos os passos do teu trajecto

vais em frente, insistes e concretizas

derrubas obstáculos quando precisas

nada se poderá opor ao teu projecto

Fazes uso absoluto de tudo o que utilizas

apesar do preço elevado, tu relativizas

dás o máximo, ao máximo te entregas

com danos colaterais não te sensibilizas

os prejuízos alheios jamais contabilizas

tuas actividades são déspotas e cegas

Teu dom?! Com aflição não te martirizas

somente nesse narcisismo te materializas

tudo pelo sucesso supremo do objectivo

há muito tempo que tu não sociabilizas

não sentes pena daqueles a quem pisas

digo isto como amigo, um bom motivo

Para ti o meu corpo é mar bravio

onde te banhas nas tardes d'estio

desnudas-me com o teu sorriso

só tu me vês como ninguém viu

sem formas, contornos ou feitio

tresloucado nato, nu sem juízo

Para ti o meu corpo é sal puro

crosta grossa de material duro

naco humano desprovido de siso

vislumbras para nós um futuro

ignoras as tuas horas de perjuro

e desconheces aquilo que preciso

Podes dizer que estás de cara lavada

e essa possibilidade existe

logo

tenho de acreditar nas tuas palavras.

Podes jurar que és um ser renovado

e essa hipótese não ponho de lado

porque sei

por experiência própria

que a renovação da pessoa é possível.

Podes gritar ao mundo

que o teu coração deixou de ser duro

e eu abono o teu grito

porque conheço corações amolecidos

pelos sentimentos.

Podes exaltar o nascimento de uma vida nova

e eu aplaudo o teu aperfeiçoamento.

Mas não me queiras impingir

essa mentira deslavada

que tens a alma pura

porque para branquear a alma

ainda não existe dentífrico.

Amo com toda a força do meu ser

amo no momento e em toda a vida.

Amo no passado, no presente, no futuro

amo no início e no fim.

Amo na tristeza e alegria

na verdade e na mentira.

Amo no branco, no preto, no cinzento

amo colorido e incolor.

Amo opaco, baço, inodoro

amo na audição e no mutismo.

Amo na presença, na distância

no aconchego e na ausência.

Amo nas horas, nos minutos e segundos

dias, semanas, meses e anos

amo no nunca e na eternidade.

Amo no sim, amo no não

amo também no talvez

na dúvida e na certeza

na utopia e no dogma

amo em alfa e em ómega

analfabeto e erudito.

Amo na escassez e abundância

amo muito com pouco

amo tudo com nada.

Amo pelo simples facto de amar.

Mas o meu amor não é correspondido

porque talvez

não se deva amar assim.

Em Alcainça todos conhecem a Isabel

sobrinha emprestada aqui do Emanuel

que lá em casa é tratado por Manu

uma pergunta eu deixo agora no ar

quem é que o aniversário vai festejar?

Será que quem faz anos hoje és tu?

Passaram oito anos desde que nasceste

sei que muitas vezes já te aborreceste

mas a felicidade é rainha da tua vida

tens uns lindos caracóis cor de ouro

em tua casa és a jóia, o maior tesouro

serás sempre a Princesa mais querida

Muitos parabéns pelo teu belo sorriso

mantém-te linda como és e com juízo

este mundo sempre estará a teus pés

aproveita o que a vida te vai dando

lembra-te de mim de vez em quando

tenho orgulho de ti tal qual como és

Este poema é dedicado à Isabelinha que hoje festeja o seu oitavo aniversário. Parabéns e muitas felicidades é o que te desejo para toda a vida.

Parabéns também aos pais e ao irmão

porque hoje faz oito anos que o são

Incompreensível estado de alma

foge-me a razão, perco a calma

que se foi com o Sol de Verão

choram nuvens de desconfiança

regam terra árida d'esperança

brotando de mim esta irritação

Momentos de escassa paciência

num paciente são incoerência

na enxurrada vai todo o alento

confuso, encho-me de lamúria

explode este meu peito de fúria

e com ele eu também rebento

Mais que sonhador

eu sou o próprio sonho

personagem de mim mesmo.

Ando de desejo em desejo

sem encontrar uma só realização.

Mais que esperançoso

sou a própria esperança

teimosia do meu ser.

Vou de porta em porta

sem encontrar uma só motivação.

Mais que inventivo

sou a própria invenção

criações do meu intelecto.

Viajo de ideia em ideia

sem encontrar o meu equilíbrio.

Mais que tudo

eu sou o nada

vazio imenso que sou

ausência ou omnipresença

aqui estou sem me encontrar.