Domingo, 28 de Dezembro de 2008

Onde andas gente? (2008)

Sentado no banco do jardim

observo o mundo em meu redor

vejo homens, mulheres, crianças

vejo rostos

vejo alegria, tristeza, choro

um casal que se ama

ainda se ama...

vejo brincadeiras de crianças

vejo uma mais traquina

a ser repreendida

chora, grita, faz birra

a mãe desespera

mas austéra

diz que chegou a hora de partir

a criança chora

vejo jogos de adultos

jogos de sedução

palavras sussurradas

a ouvidos atentos

sorrisos abertos, brancos

vejo brilhos nos olhares

bocas que se beijam

ainda se beijam...

vejo jogos de reformados

cartas, dominó, xadrez

velhos e menos velhos

em redor de outros velhos

que jogam

cartas, dominó, xadrez

ás de trunfo!

carrão!

xeque-mate!

cada um com seu jogo

aptidão

vejo também solidão

vejo e observo um rosto

nossos olhares cruzam-se

recebo um sorriso

podre, mas sorriso

retribuo com um aceno de cabeça

gesto convidativo

vem, senta-te aqui!

vem falar um pouco!

hesitação

desconfiança

mas por fim... a cedência

- Chamo-me Emanuel, e você?

- O meu nome é Gente.

- Quem tem o nome de... Gente?

digo sorrindo

mas admirado com a resposta

- Toda a gente.

fico sem palavras, não compreendo

- Olha filho!

diz o homem, pouco mais velho que eu

chamado Gente

- Quando reclamam comigo

não me chamam António, Manuel ou João

dizem sempre

" Sai daqui pedaço de gente"

" Mas que gente esta!"

" Porque deixam esta gente andar aqui?"

compreendes agora?

fico calado

sem saber que dizer

o silêncio diz tudo

levanto-me

estendo-lhe a mão

- O meu nome é Emanuel, e o seu?

ele olha-me a mão

hesitante aperta-a

- O meu nome é gente. Pedro gente.

e ri

um riso podre... mas riso

 

sinto-me: gente
publicado por manu às 11:51
link do post | favorito
De Maria João Brito de Sousa a 30 de Dezembro de 2008 às 01:35
Este é um belo retrato das exclusões sociais, Manu. Muito, muito verdadeiro e actual... infelizmente e por todos os motivos. Gostei especialmente dele. Os sem-abrigo são uma realidade gritante dos nossos dias e eu só espero não vir a engrossar-lhes as fileiras...
Abraço grande e boas entradas em 2009!
De manu a 30 de Dezembro de 2008 às 18:48
Olá poetisa! Tenha fé, que tudo se há-de resolver pelo melhor. Se há uma coisa que sei sobre si é que tem amigos que se preocupam consigo e estão prontos a ajudar, eu incluído. Precisando... Abraço.
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